Teoria da Inflação Eterna
A teoria da inflação eterna, ou inflação caótica,
foi proposta por Andrei Linde, da Universidade de Stanford. É uma nova versão
da amplamente aceite teoria da inflação cósmica que resolve alguns problemas
das anteriores versões. Linde propôs que o mecanismo que provocou a inflação
(uma expansão rápida do espaço) no nosso universo ainda está a funcionar,
fazendo com que certas regiões do espaço sofram inflação de forma aleatória.
Assim, uma pequena porção do universo pai que subitamente sofra inflação dá
origem a um universo bebé, uma bolha que brota do “progenitor” e que pode, por
sua vez, vir a gerar outros universos, pelo mesmo processo. A teoria diz que
existe uma infinidade de bolhas, cada uma de tamanho infinito, desligadas umas
as outras, e que este processo continuará para sempre. Neste cenário o
multiverso é eterno, apesar de cada universo particular poder não o ser. É
portanto provável que o nosso universo tenha nascido de um outro e em
contrapartida produza mais universos. Pensa-se também que, quando ocorre
formação de universos por este processo, flutuações quânticas provocam quebras
de simetria diferentes em cada bolha, resultando em universos com diferentes
propriedades, como as constantes físicas e as dimensões do espaço e do tempo.
Um aspecto interessante do nosso universo é que a maioria dos atributos que se
pensa terem sido estabelecidos por quebras de simetria aleatórias durante o seu
nascimento têm exatamente os valores necessários para sustentar a vida. Se este universo for o único que existe, então estamos perante uma muito estranha
coincidência, mas se existir um número infinito de universos paralelos com
diferentes valores para os parâmetros físicos então é natural que nos
encontremos num daqueles que permite a vida, em particular o nosso tipo de
vida, senão obviamente que não estaríamos aqui para contar a história. Assim,
apesar de neste modelo não haver forma de observar ou interagir com os outros
universos, a sua presença pode explicar estas coincidências no nosso universo,
o que também é válido para as restantes teorias (desde que os parâmetros
físicos possam variar entre universos). No entanto, se se vier a descobrir que
o universo está ajustado de forma ainda mais específica do que o que a nossa
presença requer, esta explicação deixa de ser plausível.
Os Buracos Negros de Lee Smolin
Uma outra ideia foi lançada por Lee Smolin, do
PerimeterInstitude for TheoreticalPhysics. Ele propõe que possam ser gerados
universos bebé através do mecanismo de colapso gravítico que leva à formação de
buracos negros em universos preexistentes. Smolin especula que se forme uma
nova região de espaço inflacionário no interior do buraco negro, ligada ao
espaço inicial por um buraco de verme. Posteriormente, devido à evaporação do
buraco negro pelo processo de Hawking, o universo “bebé” desliga-se
espacialmente do inicial. O novo universo “herda” as propriedades físicas do
progenitor, mas com ligeiras variações aleatórias, tal como no caso da inflação
eterna. Ainda não há nenhuma teoria pormenorizada que explique como a
informação física seria transmitida de um universo para outro por esta
concepção, mas há previsões acerca do nosso universo que poderão vir a ser
confirmadas. Se esta conjectura estiver correta, os universos cujas características
favoreçam a produção de buracos negros reproduzem-se mais que os outros. Como há
uma certa “hereditariedade”, estas características são transmitida à
descendência, e assim são estes universos, de entre o conjunto de universos com
todos os parâmetros físicos possíveis, que representam o maior volume de
espaço. Assim, o nosso universo, caso tenha resultado desta “seleção natural”,
deverá ser muito eficiente na formação de buracos negros, pelo que uma qualquer
alteração nos seus parâmetros físicos tornaria a sua formação menos provável.
Teoria M
A teoria M, a extensão em 11 dimensões da teoria de
cordas, afirma que todo o nosso universo é uma membrana tridimensional num
espaço com mais dimensões. Quando os 3 físicos começaram a trabalhar na 11ª
dimensão descobriram cada vez mais membranas, ou possíveis universos, tendo
chegado à conclusão de que o seu número podia ser infinito. O nosso universo
coexiste com estas membranas, que apesar de não se verem podem até estar
bastante próximas de nós (a menos de 1mm!). Em cada uma delas as leis físicas,
o número de dimensões observáveis, etc., podem ser completamente distintos dos
nossos. Apesar de poder ser um pouco prematuro, há já cientistas que utilizam a
teoria M para responder a algumas perguntas cosmológicas importantes. Lisa
Randall e os seus colegas na Universidade de Harvard, mostraram, por exemplo,
que a gravidade pode fluir entre universos paralelos. Assim, o facto de a força
da gravidade ser tão fraca no nosso universo pode dever-se ao facto de esta provir
de um outro, no qual é tão forte como as outras forças, mas quando chega até
nós já é apenas um fraco sinal. É também possível que a matéria negra seja um
universo que esteja tão próximo de nós que a sua matéria
interactuagraviticamente com a do nosso universo. Por outro lado, Neil Turok da
Universidade de Cambridge, Burt Ovrut da Universidade da Pensilvânia e Paul
Steinhardt da Universidade de Princeton acreditam que as membranas se movem na
11ªdimensão, e que quando colidem se dá um Big Bang, surgindo um novo universo
cuja matéria e radiação provêm da energia cinética da colisão. Isto resolveria
o enigma da causa do Big Bang, para o qual não há uma resposta definitiva, e
implicaria que o Big Bang não foi o início do Tempo. Significaria também que os
Big Bangs ocorrem frequentemente, sendo mesmo possível que a nossa membrana
colida com outras no futuro. Se a teoria M estiver certa e existir um universo
paralelo a apenas 1mm de distância do nosso, é até possível que o
LargeHadronCollider o consiga detectar nos próximos anos.
Multiverso mirabolante
Há ainda a hipótese de um multiverso mais
mirabolante, proposto por Max Tegmark(1), do MIT. Ele sugere que todos os
universos logicamente possíveis existam na realidade, ou, por outras palavras,
que qualquer universo hipotético que se baseie numa determinada estrutura
matemática seja real. Cada universo destes pode assim reger-se por leis da
física completamente distintas. Com este tipo de multiverso abre-se todo o
reino das possibilidades. Tudo o que possamos imaginar pode acontecer realmente
num outro Universo, com outras leis físicas, outras constantes, outra estrutura
do espaço-tempo. Para justificar esta especulação, Tegmark utiliza o incrível
facto de as estruturas matemáticas descreverem com notável verosimilhança a
Natureza, sem que haja uma explicação lógica para tal. Segundo este modelo,
isso é um resultado natural do facto de o próprio mundo físico ser uma
estrutura matemática. Isto responderia ao porquê de o nosso universo ser como
é. Se a realidade física não englobar todos os universos possíveis, isso
implica que tem de haver uma razão para alguns existirem e outros não, para
algumas estruturas matemáticas terem sido selecionadas para o privilégio de
descrever a realidade. Mas então qual é essa razão, e porquê ela e não outra?
Este cenário, uma vez que esgota todas as possibilidades, torna essa pergunta
desnecessária – há uma total simetria matemática, todas as estruturas
matemáticas existem fisicamente e correspondem a universos paralelos que existem
fora do espaço e do tempo. De fato, pode argumentar-se que quanto mais
abrangente for o tipo de multiverso mais simples ele é, pois ganha simetria
relativamente aos outros modelos e torna desnecessária a adição “forçada” de
certas condições.
A Interpretação dos Muitos Mundos da Mecânica
Quântica
A mecânica quântica é uma teoria bem consolidada e
confirmada experimentalmente que descreve o mundo atômico. Ela descreve o
estado do universo em termos que um objecto matemático – a função de onda –,
que evolui no tempo de forma determinística. Há, no entanto, uma certa
dificuldade em relacionar a função de onda – que descreve o 4 objecto quântico
numa sobreposição de todos os estados quânticos possíveis – com o que nós
observamos – o objecto em apenas um estado quântico. Para resolver este
problema, postulou-se que quando se faz uma observação a função de onda colapsa
num estado quântico definido, deixando de ser necessária. Isto implica que o
processo de observação determina o estado final, ou seja, que ao observarmos o
objeto afetamos o seu comportamento. Esta proposta explica as observações, mas
acrescenta incerteza à teoria, visto que não temos forma de definir
matematicamente uma observação. Assim, a teoria deixa de ser determinística e
permite situações contra intuitivas, como o caso do gato de Schrödinger, que
antes de ser observado está simultaneamente morto e vivo.
gato de Schrödinger
Este é o ponto de
vista apoiado pela interpretação de Copenhaga, que se deve principalmente a
Niels Bohr e que continua a ser até hoje a mais aceite pelos físicos. Há, no
entanto, outras interpretações possíveis. Hugh Everett III propôs, na sua tese
de doutoramento em 1957, na Universidade de Princeton, uma interpretação
alternativa dos acontecimentos descritos pela mecânica quântica – a interpretação
dos muitos mundos. Ele mostrou que a teoria quântica não necessita do postulado
do colapso da função de onda para ser coerente como descrição da realidade.
Podemos considerar que a equação de Schrödinger é sempre válida, ou seja, que a
função de onda nunca colapsa. Esta interpretação foi posteriormente
desenvolvida por outros físicos, como Bruce DeWitt e David Deutsch.Se a função
de onda nunca colapsa, então todos os resultados possíveis num processo quântico
são obtidos na realidade, cada um num universo diferente, apesar de nós
apenas termos percepção do resultado observado no nosso mundo. Por outras
palavras, cada processo quântico em cada átomo do universo faz com que ele
literalmente se divida em múltiplas reproduções de si mesmo, estruturalmente
idênticas mas em diferentes estados.Por mais perturbador que isto pareça, se a
interpretação estiver correta ela tem implicações para além do nível quântico – todas as ações que tomamos correspondem a um determinado conjunto de estados
quânticos, logo todos os acontecimentos possíveis se realizam nalgum universo
alternativo deste multiverso quântico.Resolvem-se assim situações contra
intuitivas correspondentes a funções de onda legítimas, como o paradoxo do gato
de Schrödinger – o gato não está morto-vivo, mas sim morto em metade dos
universos e vivo na outra metade.
O multiverso de Everett, visto como um todo, é na
realidade muito simples: existe apenas uma função de onda que evolui
deterministicamente ao longo do tempo, e cada um dos seus ramos corresponde a um
universo inteiro igualmente real. No entanto, como o observador apenas tem
acesso a uma pequena fracção da realidade total, uma divisão no
universo traduz-se para ele numa aleatoriedade quântica.Por outro lado, como não
há forma de saber qual das cópias nos diferentes universo seu sou, não há forma
de eu prever o meu futuro, mesmo que tenha um conhecimento absoluto do estado do
multiverso. A única coisa que eu posso dizer é que se um acontecimento tem uma
determinada probabilidade de ocorrer então numa percentagem correspondente de
universos os observadores vêm esse acontecimento ocorrer.Esta interpretação é
perfeitamente consistente com a experiência e matematicamente equivalente à
interpretação de Copenhague – as probabilidades que se observam são exatamente iguais às calculadas usando o colapso da função de onda.
Se estiver certa, ela elimina os paradoxos
geralmente associados às viagens ao passado sem que haja perda do livre
arbítrio. Ao fazermos diferentes escolhas estamos a viver universos diferentes
daqueles onde já estivemos: podemos matar o nosso jovem avô e, nesse universo
alternativo, nunca nascerá uma pessoa geneticamente igual a nós, mas
nós próprios continuamos a existir, bem como o nosso avô real (no universo
original).Apesar de não podermos comunicar com estes universos, eles podem ter
efeitos sobre o nosso. David Deutsch(3), da Universidade de Oxford, afirma mesmo
que a existência de 5 universos paralelos é uma consequência direta das
observações experimentais de “interferência”,não havendo outra explicação
coerente possível para o fenômeno. Observa-se interferência quando a trajetória de uma partícula no nosso universo é afetada por “entidades”que se comportam
como partículas do mesmo tipo da inicial mas que não são detectáveis por nós.
Para este cientista, estas “entidades” são apenas as partículas equivalentes
à nossa partícula, mas em universos paralelos, e como tal não afetam qualquer
outra parte do nosso universo.
Está-se também a tentar construir computadores
quânticos, que seriam capazes de, recorrendo à interferência, explorar as
partículas nos universos paralelos para fazer cálculos,adquirindo portanto uma
muito maior rapidez relativamente aos computadores atuais.Para além disso, já
foram demonstradas sobreposições sem colapso em moléculas de carbono-60,
confirmando a previsão da teoria de que por maior que seja o sistema
não será possível observar o colapso.Por todos estes motivos esta interpretação
tem ganho gradualmente mais aceitação por parte da comunidade científica.Desta
forma de olhar o mundo, tomando a mecânica quântica como
descrição absoluta da realidade, podemos inferir uma visão alternativa do
conceito de Tempo. Cada universo é apenas um conjunto de estados quânticos
definidos, é estático, e no seu todo os universos concretizam todos os arranjos
de matéria possíveis. Na realidade, os universos não evoluem o tempo, mas estão
constantemente a subdividir-se noutros universos, sendo por eles substituídos.
Assim, o tempo é apenas uma forma de pôr estes universos numa sequência.
O que o observador entende por
passagem do tempo corresponde à sua passagem de uns universos para os outros,
universos que chama “momentos”e cujo conteúdo é ligado pelas leis da física.
Como existem sempre todos os estados possíveis,não faz sentido dizer que uma
coisa ocorreu antes ou depois da outra, e o decorrerdo tempo pode não passar de
uma ilusão.
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