Entretanto, até a Idade Moderna o Universo permaneceu inteiramente misterioso. Os bandeirantes já tinham desbravado o interior do Brasil quando, finalmente, na Europa, foram descobertas leis físicas capazes de explicar os movimentos dos corpos celestes (entre os quais a própria Terra). Ficou demonstrado que os objetos materiais com que convivemos na superfície da Terra estão sujeitos a essas mesmas leis.
A partir dessa época o conhecimento científico da Natureza vem se acumulando. O espaço exterior deixou de ser inacessível. Todavia a cada nova descoberta a humanidade constata que o mistério do Universo é
maior e mais fascinante do que antes se imaginava.
Entre os pioneiros de estudos e experimentos em astronáutica merecem destaque Konstantin E. Tsiolkovsky, Robert H. Goddard e Hermann Oberth. Trabalhando independentemente, quase sempre com
poucos recursos, eles resolveram problemas de engenharia e demonstraram que foguetes de propulsão química poderiam um dia levar cargas úteis ao espaço. Em geral seus trabalhos foram mal compreendidos e receberam pouco apoio. A possibilidade concreta de uso militar dos foguetes é que levou os governos da Alemanha, da URSS e dos EUA, a partir de um dado momento, a apreciar e aproveitar os resultados obtidos por esses pioneiros. Durante a Segunda Guerra Mundial a Alemanha investiu no desenvolvimento de foguetes de propelentes líquidos para transportar “bombas voadoras”. Até o fim da guerra Oberth trabalhou com Wernher Von Braun e uma equipe de especialistas na base de Peenemünde. Depois da guerra, os EUA e a URSS aproveitaram a experiência dos alemães em seus programas de armamentos, cujos foguetes oportunamente também se prestariam à exploração do espaço.
Sputnik 1
O lançamento do primeiro satélite artificial da Terra, o Sputnik 1, a 4 de outubro de 1957, marca o início da Era Espacial. Era uma esfera de alumínio de 58 cm de diâmetro e 84 kg de massa, com instrumentos
rudimentares e um transmissor de rádio. Entrou em órbita elíptica entre 230 e 942 km de altura. Um mês depois a URSS pôs em órbita o segundo Sputnik, de meia tonelada, com uma cadela a bordo, usando um foguete com empuxo de centenas de toneladas. O primeiro satélite lançado pelos EUA com sucesso foi o pequeno Explorer 1, de 8 kg, em 31 de janeiro de 1958. A vida útil desses primeiros satélites em geral não passava de poucas semanas.
Luna 2
A URSS atingiu a Lua com uma sonda de impacto (Luna 2) em setembro de 1959. No mês seguinte, com a Luna 3, obteve imagens da face da Lua que nunca é vista da Terra. Em 1960 os EUA lançaram um satélite meteorológico (Tiros 1), um satélite de navegação (Transit 1B) e um satélite passivo de comunicações (Echo 1). Este último era um enorme balão esférico inflado no espaço para refletir as ondas de rádio. Ao findar aquele ano já tinham entrado em órbita 44 satélites. Impulsionada pela Guerra Fria, a corrida espacial entre as duas superpotências começava a gerar resultados científicos importantes, como a descoberta dos cinturões de radiação que circundam nosso planeta.
Por alguns anos a URSS e os EUA
foram os únicos países capazes de explorar o espaço. O desenvolvimento de
grandes foguetes era custoso e incerto. A URSS, por esforço próprio, inspirada
na tradição de Tsiolkovsky e aproveitando alguns técnicos e materiais
capturados da Alemanha em 1945, foi a primeira a produzir foguetes de grande
empuxo, que lhe deram clara vantagem até meados da década de sessenta. Os EUA
dispunham de amplos recursos econômicos e tecnológicos, tinham experiência
própria graças ao trabalho de Goddard, e contavam com os melhores especialistas
de Peenemünde. Entretanto, em boa parte devido a problemas organizacionais,
ficaram a reboque da URSS no início da corrida espacial. Até o lançamento do
Sputnik 1 a perspectiva da exploração do espaço não empolgara a opinião pública
nos EUA, onde o assunto era visto em setores do governo como uma disputa entre
grupos rivais do Exército, Marinha e Força Aérea.
O impacto causado pelo sucesso
dos soviéticos levou os EUA a uma reação rápida e exemplar: houve uma
autocrítica implacável, cresceu a demanda popular por resultados imediatos e o
governo entendeu que precisava se reorganizar. O “efeito Sputnik”, além de
diligenciar a criação da NASA, agência espacial constituída com base nos
centros de pesquisa e equipes técnicas já disponíveis, desencadeou um processo
de mudanças no sistema educacional. Em todo o país houve um esforço para
ampliar e melhorar o ensino de matemática e ciências nas escolas. A corrida
espacial marcou presença até nos jardins-de-infância norte-americanos, onde
muitas crianças aprenderam primeiro a contar na ordem regressiva, como nos
lançamentos: 10, 9, 8, ...
Quais outros países tinham
condições de tornar-se exploradores do espaço a partir de 1960? A Alemanha e o
Japão estavam na situação peculiar de potências derrotadas na Segunda Guerra
Mundial, com restrições externas ou auto-impostas a tudo que pudesse se
relacionar com armamentos. Por isso o desenvolvimento da indústria espacial
nesses países foi mais tardio em determinados setores __ o que não impediu que
ambos chegassem à vanguarda, onde seguramente se encontram hoje.
A Grã-Bretanha tinha recursos
técnicos e outras condições favoráveis, mas adotou uma linha discreta em seus
projetos espaciais, apoiando-se mais na Aliança Atlântica, como fez também na
área nuclear. Pôs em órbita um pequeno satélite em 1971. A França, ao
contrário, além de participar dos planos e programas internacionais europeus,
desde cedo mostrou-se determinada a desenvolver capacidade própria. Em 1962 estabeleceu
sua agência espacial, o Centre National d’Études Spatiales (CNES), assegurando
investimentos para pesquisas, desenvolvimento e industrialização. De 1965 a
1971 a França lançou ao espaço nove pequenos satélites tecnológicos e
científicos, dois com foguete da NASA e sete com lançador próprio. Em 1968 pôs
em operação uma base de lançamentos na Guiana Francesa. A Itália e os outros
países da Europa Ocidental só deram impulso significativo à indústria espacial
quando se consolidou a Comunidade Européia e formou-se a Agência Espacial Européia (ESA). O Canadá também
desenvolveu a indústria de satélites, contando com outros países para fazer os
lançamentos. Na Ásia, além do Japão, primeiro a China e mais tarde a Índia,
apesar do atraso econômico e do isolamento, empreenderam programas espaciais
autônomos. A China desenvolveu uma família de foguetes e pôs em órbita seu
primeiro artefato em 1970. Desde então lançou com sucesso dezenas de satélites,
muitos dos quais recuperáveis após manobra de reentrada na atmosfera. A Índia
produziu satélites para aplicações científicas, tecnológicas e utilitárias, que
foram lançados a partir de 1975 por foguetes estrangeiros e indianos.
Nos últimos vinte anos diversos
outros países começaram a participar da exploração do espaço __ entre eles o
Brasil, do qual será abordado mais adiante. A competição entre países cedeu
lugar à cooperação internacional (exceto nas tecnologias com aplicação militar)
e à competição entre grupos industriais. O uso de sistemas de satélites para aplicações
rentáveis (das quais a principal são as telecomunicações) teve enorme expansão,
com investimentos de bilhões de dólares.
Em abril de 1961, meros três anos
e meio depois do Sputnik 1, a URSS noticiou o vôo orbital de Yuri A. Gagarin a
bordo da Vostok 1, abrindo uma nova fase da conquista espacial, fascinante e
dispendiosa, que culminaria com o pouso de astronautas na Lua. No início
astronautas solitários deram umas poucas voltas em torno da Terra a bordo das
naves Vostok e Mercury. Depois voaram em grupos de dois ou três, cumprindo
missões cada vez mais longas. Em 1961 o presidente dos EUA anunciou a meta
nacional de explorar a Lua com astronautas antes do final da década. Em poucos
anos todas as etapas necessárias a esse feito extraordinário foram planejadas e
levadas a cabo com pleno sucesso.
No Natal de 1968 três astronautas
navegaram em torno da Lua a bordo da Apollo 8. Finalmente, a 20 de julho de
1969, Neil A. Armstrong e Edwin E. Aldrin Jr., da Apollo 11, pousaram no Mare
Tranquillitatis. O programa terminou com a missão da Apollo 17, em 1972, e
desde então até hoje ninguém mais se afastou das cercanias da Terra! Os
soviéticos nunca puseram em prática seus planos de enviar naves tripuladas à
Lua, mas coletaram amostras de rochas lunares com o módulo de regresso da nave
automática Luna 16 (1970).
A contribuição dos astronautas à pesquisa científica do espaço é
modesta (em comparação com a das naves automáticas) e sua presença
nos satélites comerciais é inteiramente dispensável. Não
obstante, na visão do cidadão comum, sem eles a exploração
espacial perderia grande parte de sua razão de ser. Talvez por isso,
mais do que por alguma visão estratégica de colonização do espaço
exterior no curto prazo, os investimentos dos EUA e da URSS com naves
e estações tripuladas tornaram-se desproporcionalmente vultosos
durante a Guerra Fria. Conseqüências dessa política persistem até
hoje. O Space Shuttle e a futura estação espacial internacional
resistem a todas as críticas e continuam com a parte do leão nos
orçamentos da NASA.
A exploração sistemática do Sistema Solar por naves não-tripuladas
é sem dúvida uma das realizações científicas mais notáveis da
humanidade. Os primeiros astros visitados foram a Lua e os dois
planetas vizinhos, Vênus e Marte. Após as missões pioneiras da
URSS à Lua, já citadas, os EUA obtiveram dados e imagens da
superfície lunar com as sondas da série Ranger. A URSS conseguiu
pousar a Luna 9 na superfície no início de 1966, e logo em seguida
pôs outra sonda em órbita da Lua. Meses depois, os EUA também
conseguiam pousar com sucesso na Lua a primeira nave da série
Surveyor, e imagearam toda a superfície com os satélites Lunar
Orbiter.
As primeiras missões interplanetárias foram dirigidas a Vênus,
pelos soviéticos, que em 1965 fizeram a nave Venera 3 colidir com o
planeta. Em 1967 a Venera 5 transmitiu dados enquanto mergulhava nas
altíssimas temperaturas e pressões da atmosfera venusiana. O
primeiro pouso com sucesso só foi conseguido em 1970 (Venera 7). Os
EUA deram mais prioridade a Marte. Em 1965 a sonda Mariner 4 passou
perto do “planeta vermelho” e transmitiu imagens de algumas
áreas. Seis anos depois o orbitador marciano Mariner 9 obteve dados
científicos muito valiosos e fez imagens de toda a superfície, que
se revelou variada e interessantíssima. A URSS também aproveitou a
mesma época favorável e fez chegar a Marte no final de 1971 duas
sondas orbitais de grande porte, das quais se separaram módulos que
pousaram com sucesso na superfície. A exploração desses planetas
vizinhos prosseguiu com missões mais complexas. As naves Viking
(1976) procuraram e não encontraram processos bioquímicos no solo
marciano. Bem mais recentemente a nave Magalhães, em órbita de
Vênus, mapeou por radar toda a superfície do planeta. Também houve
grandes fracassos, como a perda de um par de naves soviéticas
enviadas a Marte (pelo menos uma delas vítima de falha humana no
envio de telecomandos) e a mais recente e ainda misteriosa perda do
Mars Orbiter, dos EUA, que custara centenas de milhões de dólares.
Atualmente o Mars Global Surveyor, um novo observador orbital,
transmite imagens de alta resolução da superfície marciana, onde
pousou com sucesso o pequeno veículo Pathfinder.
O planeta Mercúrio só foi visitado em duas passagens da sonda
imageadora Mariner 10, lançada em 1973. Os planetas gigantes,
Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, bem como os satélites desses
planetas, receberam bastante atenção desde o final da década de
setenta, da parte de naves norteamericanas das séries Pioneer e
Voyager, que fizeram muitas descobertas científicas e transmitiram
imagens impressionantes. A nave Galileo partiu com grande atraso (em
1989) para uma nova fase da exploração de Júpiter e foi
prejudicada pela falha de sua antena principal. Não obstante, a
longa missão teve sucesso. Em 1995 transmitiu dados captados por um
módulo que se separou do corpo principal da nave e mergulhou na
atmosfera do planeta. A nave Cassini-Huygens, lançada em 1997,
empreendimento conjunto NASA/ESA, deverá chegar a Saturno e ao seu
satélite Titã em 2004.
O próprio espaço interplanetário, povoado de partículas, radiação
e campos magnéticos, tem sido esquadrinhado por sondas espaciais.
Telescópios e sensores foram lançados ao espaço para observar
sinais provenientes de todo o Universo, especialmente nas faixas de
radiação às quais a atmosfera terrestre não é permeável. A nave
Ulysses foi posta em órbita em torno do Sol em um plano que lhe
permite olhar para as regiões polares da nossa estrela. Outras
missões já foram realizadas ou estão planejadas para explorar
cometas e asteróides. Algumas delas foram empreendidas pelos
europeus (caso da sonda Giotto, que se aproximou do cometa de Halley
em 1986) e pelos japoneses.
O Brasil oficializou seu interesse pela exploração do espaço em
1961, com a criação da CNAE, precursora do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE). Desde o início esse órgão público
federal cooperou com agências espaciais estrangeiras e instalou
estações para receber e processar dados de satélites científicos
e meteorológicos. Com o tempo, o Brasil tornou-se um dos maiores
usuários de imagens da Terra transmitidas por satélites, e
desenvolveu técnicas próprias para sua utilização. Através da
Embratel, o país também foi um dos primeiros países a usar
comunicações por satélites.
Em 1965 o Ministério da Aeronáutica instalou uma base de
lançamentos no Rio Grande do Norte, e começou a desenvolver
foguetes de sondagem e mísseis no Centro Técnico de Aeronáutica
(CTA). A partir dessa época cresceu a indústria aeroespacial e de
armamentos sediada em São José dos Campos. Em 1980, com base em
estudos de viabilidade feitos por engenheiros do CTA e do INPE no ano
anterior, o governo decidiu empreender um grande projeto de
capacitação tecnológica, que recebeu o nome de Missão Espacial
Completa Brasileira (MECB). Ficou estabelecida a meta de desenvolver
no país um veículo lançador __ foguete de propelente sólido __ e
quatro satélites com aplicações ambientais (dois para coleta de
dados e dois para sensoriamento remoto da Terra). Os satélites
deveriam ser colocados sucessivamente em órbita pelo foguete
nacional, lançado do território brasileiro, no triênio 1986__1988.
No ano seguinte (1981) a programação da MECB foi refeita: o
primeiro lançamento ficou marcado para 1989. Todavia mesmo este
prazo mais realista não pôde ser cumprido, principalmente porque
não se conseguiu levar a cabo o desenvolvimento do foguete da
maneira prevista.
O projeto MECB como um todo foi prejudicado, desde a origem, por
problemas organizacionais, gerenciais e orçamentários que não
foram submetidos a avaliações e correções oportunas. A partir de
1987 aumentaram as restrições do exterior à importação pelo CTA
de certos materiais e componentes necessários ao desenvolvimento do
veículo lançador de satélites (VLS), dificultando ainda mais sua
realização, já então bastante atrasada. A dependência de
fornecimentos externos e tecnologia estrangeira no plano de
desenvolvimento do VLS, antes dissimulada, teve de ser reconhecida de
público.
Em 1988 já estava patente que, além de rever a estratégia e as
táticas para obter sucesso com o foguete lançador no médio prazo,
era necessário providenciar algum outro meio de lançamento, no
exterior, pelo menos para o primeiro satélite, cujo desenvolvimento
não encontrara obstáculo. A despeito de gestões feitas nesse
sentido, dado que o pessoal técnico e gerencial do CTA e do INPE
dispunha de elementos suficientes para formular e propor a
indispensável atualização do projeto MECB, as autoridades
militares persistiram em mantê-lo engessado na sua concepção
original. O impasse político só foi superado em 1991.
O primeiro satélite nacional, o SCD1, com a missão de coleta de
dados ambientais, foi finalmente lançado a 9 de fevereiro de 1993
por um foguete Pegasus, que partiu de um avião da NASA enquanto este
sobrevoava o Oceano Atlântico a sudeste da Flórida. O lançamento
foi contratado pelo governo brasileiro de uma empresa dos EUA. Desde
então o SCD1, de 110 kg, funciona em sua órbita, a 760 km de
altitude, recebendo e retransmitindo dados captados no solo por
pequenas estações automáticas conhecidas como PCDs (plataformas
coletoras de dados). O desempenho do SCD1 excedeu todas as
expectativas plausíveis para um protótipo pioneiro desenhado e
construído para funcionar por um ano com 80% de confiabilidade.
O SCD2, lançado na noite de 22 de outubro de 1998, novamente por um
foguete Pegasus, também teve pleno sucesso. Este segundo satélite é
quase idêntico ao primeiro, exceto por alguns aperfeiçoamentos
incorporados ao projeto em 1988. Mais significativo é o fato de que,
enquanto a maioria dos equipamentos de bordo do SCD1 foi construída
no próprio INPE, o fornecimento pela indústria privada nacional já
predominou no SCD2. Atualmente há cerca de trezentas PCDs instaladas
e em operação no território brasileiro. Este número, que só
cresceu recentemente, é ainda muito pequeno em relação à
capacidade dos satélites.
Em um quadro de muitas dificuldades e sucessivos atrasos, prossegue
no CTA o desenvolvimento do veículo lançador de satélites
nacional. O VLS é um foguete de propelente sólido, de quatro
estágios e 50 toneladas de massa na decolagem. Seu vôo inaugural a
partir da base de Alcântara, no Maranhão, em 1997, não teve
sucesso: um dos quatro motores do primeiro estágio não acendeu.
Além do foguete, perdeu-se no lançamento um satélite de coleta de
dados semelhante ao SCD2. Infelizmente a falha na decolagem não
permitiu que se comprovasse nesse primeiro teste o funcionamento dos
demais estágios e subsistemas do VLS. O próximo lançamento do VLS
ficou previsto para 1999. A carga útil, a ser fornecida pelo INPE,
poderia ser um satélite científico incrementado por mais um
retransmissor de dados de PCDs.
Paralelamente ao programa de foguetes e satélites nacionais MECB, já
em 1988 o Brasil começou um outro projeto, em cooperação com a
China, cujo objetivo é desenvolver, lançar e operar dois satélites
de médio porte (uma tonelada e meia) para sensoreamento remoto
óptico de recursos naturais. Os satélites serão lançados por
foguetes chineses. O acordo binacional previu 30% de participação
financeira do Brasil nos satélites e nos lançamentos. A
participação do INPE e da indústria brasileira na realização dos
satélites em princípio estaria na mesma proporção, mas na prática
é menor, devido a subcontratos passados a empresas chinesas e de
outros países. Ao longo dos anos houve substancial aumento nos
custos do projeto inicialmente previstos pelo acordo. O lançamento
do primeiro satélite sinobrasileiro, denominado CBERS, também
sofreu grande atraso: originalmente previsto para 1993, está agora
programado para o segundo semestre de 1999. Um fato importante é que
esse lançamento também levará ao espaço, de carona, um satélite
científico brasileiro, o Saci 1, de apenas 60 kg, construído pelo
INPE em cooperação com outras instituições de pesquisa nacionais.
Após o sucesso do SCD1 vários outros projetos de pequenos satélites
científicos e de aplicações granjearam apoio no Brasil e estão em
fases de estudo ou desenvolvimento, na maioria dos casos com
parceiros estrangeiros. Há grandes oportunidades para um papel cada
vez mais significativo do Brasil na exploração do espaço nos
próximos anos. Já temos experiência, infra-estrutura e empresas
que poderão gradualmente constituir uma indústria espacial nacional
competitiva, capaz de trabalhar em pé de igualdade com as empresas
estrangeiras. Temos uma forte demanda por novos serviços de
satélites, que pode ser atendida por sistemas concebidos por nossos
cientistas e engenheiros e realizados com participação efetiva da
indústria nacional. A capacidade de lançamento nacional de pequenos
satélites também poderá ser conseguida.
No retrospecto,
parece que a exploração espacial, como aventura heróica da espécie
humana, atingiu o ápice na saga da Apollo 13 (abril de 1970) e
depois perdeu muito do seu ímpeto. Em certa medida isto seria
conseqüência natural e inevitável do amadurecimento. Do lado
positivo, é inegável que de 1970 até hoje houve enorme evolução
tecnológica e desenvolvimento industrial na área, ao lado de grande
progresso científico. Sem a tecnologia espacial e os sistemas de
satélites o mundo de hoje não funcionaria. Como já ficou dito, a
cooperação internacional aos poucos foi se sobrepondo à
competição, e os empreendimentos comerciais ganharam vulto. Todavia
ainda é predominante em todo o mundo a participação governamental
nos investimentos espaciais, não apenas nas aplicações de
interesse militar (cuja importância não diminuiu, pois são vitais
para vigilância, navegação e comunicações) mas também nas
civis. A exploração científica do espaço, a meteorologia por
satélites, aplicações da área ambiental, a localização para
busca e salvamento e outros serviços semelhantes, de benefício
difuso ou de caráter estratégico, tradicionalmente têm sido campo
de atuação dos Estados, embora a iniciativa de organizações
não-governamentais e empresas privadas venha se expandindo em alguns
desses setores. Os serviços comerciais de lançamento por meio de
foguetes já estão essencialmente privatizados, acompanhando as
telecomunicações por satélites e a própria indústria produtora
de equipamentos e sistemas espaciais.
O Brasil deve ficar atento a essas tendências, buscando pela
integração competitiva capacitar e fortalecer sua indústria. Deve
também manter no âmbito estatal não apenas a capacidade de
formular políticase programas de interesse nacional para o setor,
mas também uma base científica, tecnológica e gerencial, com
pesquisadores, engenheiros e técnicos de alto nível (que não
precisam ser estatutários do serviço público) reunidos em centros
de excelência, a exemplo do que têm feito os países mais
desenvolvidos.
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